Maserati Levante: O SUV que Provou que Alma Esportiva e Conforto Andam Juntos, Mesmo em 2025
Em um mundo automotivo em constante mutação, onde a busca incessante por inovação se cruza com a preservação de legados, alguns veículos emergem como verdadeiros divisores de águas. O Maserati Levante é, sem dúvida, um desses ícones. Lançado em um momento em que a indústria vivenciava uma transformação sísmica, com fabricantes de carros de luxo e performance se rendendo à demanda por utilitários esportivos, o Levante não apenas cumpriu a missão de seu nascimento, mas também redefiniu as expectativas para o segmento de SUV premium.
Como um entusiasta e especialista com uma década de experiência no universo automotivo, revisitar o Maserati Levante em 2025 é olhar para uma peça da história que se mantém incrivelmente relevante. Não é apenas sobre um SUV; é sobre a ousadia da Maserati em expandir sua linhagem sem diluir sua essência. É sobre a resposta à pergunta que pairava no ar: “Pode uma marca que exala paixão e desempenho esportivo criar um utilitário que seja digno do tridente?” A resposta, como provou o Levante, foi um retumbante “sim”.
A Gênese de um Gigante: Por Que um SUV da Maserati?
Para entender o Levante, é preciso primeiro compreender o cenário em que ele surgiu. A lógica era brutalmente simples e economicamente inegável. Nos anos 2010, o mercado global virou-se de forma decisiva para os SUVs. As margens de lucro, o volume de vendas e o apelo junto a um público mais amplo tornavam a aposta em utilitários esportivos não apenas uma opção, mas uma necessidade de sobrevivência para muitas marcas de alta performance. De Modena a Maranello, passando por Stuttgart e Goodwood, a diretriz era clara: “Precisamos de capital para continuar a construir nossos superesportivos, e os SUVs são o caminho mais seguro e eficaz.”

Lembro-me da era pré-Levante, das discussões acaloradas entre puristas e realistas. A Maserati, com sua rica história de sedans elegantes e gran turismos emocionantes, seria capaz de infundir sua alma em um formato tão diferente? Minhas expectativas, como as de muitos, eram cautelosas. O desafio não era meramente construir um “jipão”, mas uma extensão autêntica e inconfundível da marca, um veículo que pudesse ostentar o tridente com orgulho. A Maserati, assim como a Lamborghini e a Rolls-Royce em seus respectivos projetos de SUVs, encarou esse desafio de frente, com uma determinação que visava calar os céticos. E, em 2025, podemos afirmar que eles foram bem-sucedidos. O Levante se tornou um pilar na estratégia da marca, solidificando a base financeira para as futuras gerações de esportivos e a investida em tecnologia automotiva de ponta.
A Estrada de Monterey: Onde o Levante Grita Maserati
Minha primeira experiência de condução com o Levante foi inesquecível, e revisitar aquela sensação ainda hoje é um deleite. Levei o Maserati S por uma serpenteante estrada na serra de Monterey, na Califórnia — um trecho que muitos chamam carinhosamente de “Nürburgring da América”. Em uma curva ascendente de raio negativo, reduzi as marchas, e o motor de origem Ferrari, um V6 biturbo de 3.0 litros, não hesitou em fazer o que faz de melhor: cantar. A melodia, um crescendo visceral que ecoava pelas paredes rochosas, invadia a cabine, criando uma sinfonia que me alertava sobre o precipício sem proteção ao meu lado.
O que realmente impressionava era a forma como o Levante dançava entre as curvas. Ele as contornava com a mesma destreza e confiança que um sedan esportivo de seu porte. As mudanças de elevação, as curvas abertas que se fechavam abruptamente – nada parecia abalar sua compostura. A suspensão a ar adaptativa, um item de série em todas as versões do Levante, trabalhava em perfeita harmonia com o chassi, garantindo que, mesmo com quase 20 centímetros de distância do solo, a sensação era de estabilidade e controle absolutos. Enquanto isso, eu estava imerso em um ambiente que exalava opulência, cercado por couro com um toque tão macio e requintado quanto o das luvas e bolsas mais caras.
Estradas como esta são o campo de testes definitivo para qualquer carro que ouse se intitular “esportivo”. E o Levante não só passou no teste, como o superou com louvor. Ao engatar a primeira marcha em uma curva fechada, o motor rugiu e o escapamento entregou aqueles estalos característicos que só um Maserati sabe fazer. Naquele momento, todas as dúvidas se dissiparam. Não era apenas um SUV; era um Maserati, maior em estatura, mas inequivocamente Maserati em alma e temperamento. Extremamente prazeroso, capaz de entregar adrenalina pura em cada aceleração e uma melodia viciante a cada troca de marcha.
Design Italiano em um Novo Formato: Mais Perua que SUV?
A linha de cintura elevada do Levante sempre lhe conferiu uma presença inconfundível, um estilo que o distingue no mar de SUVs. Desde seu lançamento, ele sempre provocou olhares curiosos, levando as pessoas a questionar se era do tamanho de um Porsche Macan ou de um Cayenne. A resposta, para a surpresa de alguns, é que ele se alinha mais com o Cayenne, um indicativo de seu porte e ambição.
O design do Levante é uma aula de como a Maserati conseguiu traduzir sua linguagem estética para um formato utilitário. Lembra-se do conceito Kubang, a primeira tentativa da Maserati de um SUV compacto? Isso foi há mais de uma década, uma era diferente no mundo automotivo. A ideia inicial de um SUV “rústico e agressivo” deu lugar a uma compreensão mais profunda do que os clientes de luxo realmente buscavam: um SUV que fosse, acima de tudo, uma extensão natural da elegância e performance da marca.
A transformação no segmento de SUVs de luxo foi notável. O vocabulário que define um utilitário esportivo mudou, evoluindo de veículos utilitários para carros mais refinados e versáteis. O Levante personificou essa mudança, apresentando-se mais como uma “perua alta” ou um “Ghibli Wagon” do que um SUV tradicional. Seus cortes e superfícies, ao serem examinados de perto, revelam um trabalho artístico, com vincos que capturam a luz de maneira dramática e linhas que fluem harmoniosamente, conferindo-lhe uma silhueta atlética e sofisticada. O imponente tridente na grade frontal não é apenas um emblema; é uma declaração, transformando o Levante em um objeto de desejo italiano instantâneo. Em 2025, seu design italiano continua a ser um de seus maiores trunfos, mantendo-o visualmente fresco e distinto.
O Interior Requintado: Luxo e Funcionalidade
Abrir a enorme porta dianteira do Levante e acomodar-se em seu interior é uma experiência por si só. A sensação é de estar entrando em um sedan de luxo, com a posição de dirigir mais baixa do que o esperado para um SUV, o que reforça a conexão com a herança esportiva da Maserati. Um olhar mais atento ao design interno revela a atenção meticulosa aos detalhes: costuras requintadas adornam cada superfície, o acabamento é suntuoso sem ser excessivo, e a escolha de materiais eleva a cabine a um patamar de pura opulência.
E, claro, há o lendário pacote Zegna, uma opção que transformava bancos e portas em verdadeiras obras de arte têxtil, elevando o nível de personalização e luxo a um patamar exclusivo. Mesmo sem essas “frescuras” adicionais, o interior padrão já impressionava. Embora alguns críticos apontassem a presença de componentes compartilhados com outros veículos do grupo (como o Chrysler 300 ou Ram 1500), é crucial lembrar que muitas dessas peças tinham sua origem em colaborações com a Mercedes-Benz, garantindo um nível de qualidade e robustez notável.
O sistema multimídia, em seu tempo, era um dos melhores, integrando perfeitamente o Apple CarPlay e oferecendo uma vasta gama de funções intuitivas através de sua tela sensível ao toque. Em 2025, enquanto a tecnologia automotiva avança a passos largos, a interface do Levante ainda se mostra funcional e fácil de usar, um testemunho de seu design atemporal. No entanto, admito que a interface de controle para o motorista, especialmente os modos de condução, sempre exigiu um breve “curso” Maserati. Os nomes dos modos pareciam mais uma lista de contatos de emergência do que um sistema lógico. Lembro-me de tentar ativar o modo Off Road, que elevava a suspensão para quase 25 cm, ideal para aquelas trilhas enlameadas que levam a uma festa de luxo isolada, e a sensação de que havia uma curva de aprendizado ali. Mas uma vez dominado, a versatilidade era inegável.
Potência e Precisão: O Coração do Levante
Sob o capô do Maserati Levante, pulsa um coração vibrante, um motor V6 3.0 biturbo que é pura engenharia italiana. Na versão de entrada, ele entregava 345 cavalos de potência, enquanto a versão S elevava a aposta para robustos 424 cv. Em 2025, esses números ainda são respeitáveis, colocando o Levante S em pé de igualdade com muitos SUVs esportivos contemporâneos em termos de agilidade.
A Maserati estimava uma aceleração de 0 a 96 km/h em cerca de seis segundos para o Levante padrão e impressionantes 5,2 segundos para a versão S. Isso não apenas o posicionava como um SUV de alta performance, mas também confirmava a promessa da marca de que “esportivo” não era apenas um adjetivo, mas uma característica intrínseca. Diferente do Ghibli, o Levante foi oferecido exclusivamente com tração integral, garantindo uma aderência superior e confiança em diversas condições de estrada, o que é um ponto crucial para a segurança e a experiência de condução de um veículo deste porte.
Pisar fundo no acelerador e sentir as rotações subirem é liberar uma fera adormecida. O som do escapamento responde com uma fúria orquestrada, berrando e estourando entre as trocas de marcha, especialmente nos modos mais esportivos. Seja no modo automático ou manual, a transmissão de oito marchas da ZF executava as trocas com uma precisão e suavidade que beiravam a perfeição. Em descidas sinuosas, o Levante revelava seu tamanho, parecendo um pouco maior e mais pesado do que se esperaria de um Maserati, mas a sensação era de solidez, não de desajeitamento.

Ao selecionar os modos de condução mais esportivos, a suspensão pneumática nas quatro rodas endurecia, mas, para ser honesto, não fazia milagres em disfarçar a massa do veículo. O conforto, no entanto, era sempre presente. O rodar firme copiava as ondulações do asfalto de forma honesta, mas sem ser desconfortável, um equilíbrio que a Maserati sempre soube encontrar. E quando a estrada permitia velocidades mais altas, o Levante se mostrava sólido e inabalável, transmitindo uma sensação de segurança e controle. A direção rápida, com respostas verdadeiras e não virtualmente assistidas por sistemas elétricos, é um dos seus diferenciais. A magia vinha de um sistema hidráulico, uma escolha que muitos puristas ainda preferem pela sensibilidade e feedback que proporciona. No modo I.C.E. (Improved Control & Efficiency, similar ao Comfort), o Levante se acalmava, suavizando as respostas e otimizando a eficiência, tornando-o um parceiro ideal para o dia a dia.
A Bolha Maserati e a Concorrência em 2025
Depois de um curto tempo ao volante, é impossível não se apaixonar pela forma como o Levante tenta, e consegue, convencer o motorista de que está dentro de um supercarro, disfarçado de perua alta. É um tributo à equipe de engenharia da Maserati que conseguiu calibrar um veículo tão grande para entregar uma experiência de condução tão envolvente.
Se o Levante tinha algum “defeito”, era existencial. Enquanto a Maserati desenvolvia o Levante, a competição no segmento de SUVs de luxo cresceu e se fortaleceu exponencialmente. O Jaguar F-Pace, por exemplo, oferecia muito do que o Levante entregava, por um preço consideravelmente mais acessível. Em 2025, o mercado de SUVs de luxo está ainda mais saturado, com inovações em veículos elétricos e híbridos plug-in. No entanto, o charme do Levante permanece.
É verdade que os compradores de Jaguar talvez não frequentem os mesmos círculos dos proprietários de Maserati, mas é inegável que, em termos de comportamento de direção e desempenho (especialmente o F-Pace R Sport de 380 cv), havia similaridades. Contudo, a linha de produtos da Maserati sempre existiu em uma bolha, e essa é a sua força. Essa exclusividade, essa aura de distinção italiana, é o que atrai seus compradores entusiastas. Quem busca um Maserati não está apenas comprando um veículo; está comprando uma herança, uma paixão, uma declaração de estilo e investimento em automóveis com uma identidade única.
O Legado Duradouro do Levante
Em 2025, o Maserati Levante continua sendo uma opção intrigante para quem busca um SUV premium que foge do lugar-comum. Ele representa a ousadia da Maserati em se adaptar às demandas do mercado sem perder sua essência. Para aqueles com a grana na conta e o desejo de ostentar o tridente, o Levante permanece como uma escolha que une o luxo, o desempenho e um design inconfundivelmente italiano.
A lógica e a razão por trás de sua existência, inicialmente questionadas, se manifestaram ao longo do tempo através de vendas sólidas e da consolidação da marca em um segmento crucial. O Levante não é apenas um carro; é um testemunho da capacidade da Maserati de inovar e de se manter fiel à sua alma esportiva, mesmo quando o mundo pedia algo diferente. É uma peça da engenharia automotiva que, mesmo em 2025, continua a virar cabeças e a provocar emoções. Se você considera ter um SUV esportivo, o Levante merece um lugar de honra na sua lista. Afinal, um Maserati é sempre um Maserati, em qualquer formato ou era.

