O Renascimento da Pura Condução: Capricorn 01 Zagato, Um Ícone Analógico Desafiando 2025
No panorama automotivo de 2025, onde a eletricidade e a inteligência artificial dominam a vanguarda, surge um farol de nostalgia e pura engenharia mecânica. Longe dos carros esportivos de luxo que prometem autonomia ou uma experiência de condução filtrada por inúmeros algoritmos, o Capricorn 01 Zagato aparece como uma audaciosa carta de amor a uma era onde o motorista era o centro do universo. Este hipercarro de produção extremamente limitada não apenas desafia as tendências atuais, mas as ignora solenemente, oferecendo uma experiência visceral e descomprometida que muitos puristas acreditavam estar perdida. Aos olhos de um especialista com uma década de imersão profunda no setor, esta máquina é mais do que um carro; é um manifesto sobre a essência da condução.
Para compreender a magnitude do Capricorn 01 Zagato, é crucial mergulhar na história de sua criadora. A Capricorn, uma empresa alemã fundada em 1933, sempre operou nas sombras, um gigante discreto cuja influência perpassava praticamente todos os segmentos de alta performance automotiva. Enquanto o público em geral talvez não a conheça, os engenheiros e entusiastas de elite reverenciam seu nome. Ao longo de quase um século, a Capricorn se estabeleceu como uma fornecedora essencial de componentes de alto desempenho para as mais veneradas máquinas de rua e de pista. Monocoques de fibra de carbono, suspensões precisas e sistemas complexos para carros como o lendário Bugatti Veyron, o revolucionário McLaren P1, o ágil Audi R8 e o tricampeão de Le Mans, Porsche 919 Hybrid, levam o selo invisível de sua perícia. Sua participação em projetos de Fórmula 1 com equipes como Lotus e Caterham solidificou sua reputação como uma potência em engenharia automotiva de ponta e materiais avançados.
Mas a história da Capricorn vai além de componentes. Em um interlúdio fascinante entre 2014 e 2015, a empresa assumiu a propriedade de nada menos que Nürburgring, o lendário autódromo alemão, o “Inferno Verde”. Com uma de suas fábricas, a unidade de Meuspath, estrategicamente localizada adjacente ao traçado de Nordschleife, a Capricorn não só produzia para os maiores nomes do automobilismo, mas também respirava a atmosfera de um dos maiores templos da velocidade mundial. Essa conexão íntima com o palco onde os limites da engenharia e da pilotagem são testados diariamente imbuiu a empresa de uma filosofia única, que agora se manifesta plenamente em seu primeiro carro de produção. O lançamento do 01 Zagato, marcando 92 anos de excelência, não é apenas um marco, mas a coroação de uma jornada de paixão e inovação silenciosa.
A receita por trás do Capricorn 01 Zagato é uma harmoniosa fusão cultural e tecnológica: a engenharia alemã meticulosa da Capricorn, o design automotivo italiano inconfundível da Zagato e uma mecânica norte-americana robusta, mas profundamente modificada. Sob uma tampa traseira de vidro, elegantemente desenhada, revela-se o coração pulsante do 01 Zagato. Envolto em um isolamento térmico dourado que remete a carros de corrida de endurance, e cercado por tubos de escape que, de tão esculpidos, parecem instrumentos de sopro, reside uma obra-prima de propulsão. A estrutura integral em fibra de carbono, que serve de base para todo o conjunto, garante rigidez e leveza, essenciais para o desempenho que se espera de um veículo nesta categoria.
O motor é a própria alma do carro: um V8 Ford Coyote de 32 válvulas DOHC, de 5 litros, comumente encontrado nos Mustang, mas transformado pela Capricorn em uma fera de performance. A base é familiar, mas a execução, distintamente exótica. Aumento do diâmetro dos cilindros elevou a capacidade para 5.2 litros, uma medida que sozinha já sugere um apetite por potência. Além disso, o motor recebeu um arsenal de componentes forjados – virabrequim, pistões e bielas – garantindo durabilidade e capacidade de girar em altíssimas rotações. Um sistema de lubrificação por cárter seco assegura o fornecimento de óleo em qualquer condição de pilotagem extrema, enquanto uma nova central eletrônica otimiza cada aspecto de seu funcionamento. A cereja do bolo é um compressor mecânico, que eleva o rendimento para mais de 900 cv de potência e 102 kgfm de torque, com um limite de giro que se aproxima das 9.000 rpm. Em uma era de motores elétricos silenciosos e turbos que mascaram o atraso, este V8 supercharged é um grito gutural de engenharia à moda antiga, entregando uma performance automotiva brutal e linear.
A filosofia do 01 Zagato é clara: simplicidade e conexão. Não há tração integral, nem vetorização de torque eletrônica, tampouco câmbios automatizados de dupla embreagem. Aqui, a tradição prevalece: tração traseira e um câmbio manual de cinco marchas. Sim, com pedal de embreagem e uma alavanca em padrão “dog-leg”, onde a primeira marcha é engatada “para baixo e à esquerda”, uma homenagem direta aos carros de corrida clássicos. Esta transmissão é uma obra de arte por si só, fabricada pela italiana CIMA (Costruzione Italiana Macchine Attrezzi), de Bolonha, uma empresa com um legado que remonta aos anos 50, quando fornecia transmissões para a Fórmula 1. O trambulador, exposto sob uma grelha de alumínio escovado, é uma joia mecânica, digna das antigas Ferrari, convidando o motorista a sentir cada engate, cada clique metálico, reforçando a experiência de condução purista.
No interior, a “simplicidade como maior luxo” é o mantra. Os bancos, fixos ao monocoque, não apenas lembram carros de competição, mas também ícones como a LaFerrari. A verdadeira inovação reside na ergonomia: para que o piloto se sinta verdadeiramente “vestido” pelo carro, tanto o conjunto de pedais quanto a coluna de direção oferecem amplos ajustes. E, em um toque de genialidade inédito até mesmo entre superesportivos modernos, a alavanca de câmbio pode deslizar 8 cm para frente ou para trás, garantindo a posição ideal de pilotagem para qualquer biotipo. Este nível de personalização reflete o compromisso da Capricorn em colocar o motorista no centro de tudo, proporcionando uma ergonomia perfeita que se traduz em confiança e controle.
O Capricorn 01 é a antítese dos hipercarros digitais de 2025. Seu painel de instrumentos é um santuário analógico, com três mostradores proeminentes, onde o conta-giros central domina, evocando a estética funcional dos protótipos de endurance dos anos 1970. O quadro de instrumentos é fixado diretamente na coluna de direção, assegurando que o motorista tenha sempre uma leitura perfeita, sem interferência do aro do volante – um detalhe que evidencia a obsessão pela funcionalidade e clareza. Não há telas multimídia sensíveis ao toque para distrair; a única concessão à modernidade é uma pequena tela que se eleva discretamente junto ao para-brisa apenas quando a câmera de ré é acionada. Até a chave é “analógica”, à moda antiga, com seu miolo posicionado no console, perto da base da alavanca de marchas, lembrando as velhas travas de câmbio, um toque que evoca uma sensação de autenticidade e um elo com o passado.
Cada comando no habitáculo é uma peça de arte funcional, usinada em titânio e alumínio, transmitindo uma sensação de solidez e precisão. O volante, minimalista, abriga apenas dois seletores físicos para os modos de condução: Conforto, Esportivo e Pista, mantendo a experiência focada na estrada. O acabamento combina o luxo tátil do couro Connolly e da alcântara com a frieza das superfícies metálicas expostas, criando um ambiente que é ao mesmo tempo opulento e espartano, focado no propósito.
O design exterior, assinado pela lendária Zagato, mantém seus traços inconfundíveis, como o icônico teto “double bubble” – duas bolhas no teto que proporcionam espaço extra para a cabeça e um perfil aerodinâmico distinto – e as proporções musculosas de um GT clássico. As portas do tipo asa de gaivota não são apenas dramáticas, mas também funcionais, facilitando o acesso ao habitáculo. Um difusor traseiro funcional e dutos de ar esculpidos na fibra de carbono são testemunhas de uma aerodinâmica integrada e inteligente. Em vez de apêndices e asas colossais que podem tornar o carro nervoso em altas velocidades, o downforce é gerado predominantemente pelo efeito solo, com o assoalho e o difusor meticulosamente esculpidos para criar sustentação negativa. Robertino Wild, presidente da Capricorn, explica a filosofia: “Nosso objetivo foi obter uma carga aerodinâmica constante e previsível, e não números extremos que tornem o carro nervoso de guiar.” Até os retrovisores seguem a lógica do atemporal, utilizando espelhos convencionais em vez de câmeras digitais. “Elas envelhecem rápido”, comenta Norihiko Harada, designer-chefe da Zagato. “Queremos que esse carro continue belo daqui a 40 ou 50 anos, ao lado de um Bugatti ou de um Aston Martin antigo.” Esta visão transcende a moda passageira, posicionando o 01 Zagato como um investimento em carros clássicos do futuro.
A estrutura do 01 é uma maravilha da engenharia leve, totalmente construída em fibra de carbono, incluindo o monocoque central e os subchassis dianteiro e traseiro. Com menos de 1.200 kg de peso em ordem de marcha, o cupê é tão leve quanto muitos esportivos dos anos 1990, um feito notável para um hipercarro de sua potência. A leveza não apenas otimiza o desempenho, mas também melhora a agilidade e a sensação ao volante. E, em um toque prático, há um porta-malas dianteiro com 110 litros de capacidade, suficiente para pequenas viagens ou o transporte de itens essenciais.
A suspensão tipo pushrod utiliza barras de torção e braços de comprimento desigual, com componentes de alta qualidade fornecidos pela Bilstein, garantindo um equilíbrio perfeito entre conforto e controle em diversas condições de estrada. Os freios são Brembo de carbono-cerâmica, com pinças de seis pistões e um sistema ABS sob medida, assegurando poder de parada excepcional e resistência ao fading. Cada componente foi escolhido entre o melhor que o mercado pode oferecer, evidenciando o compromisso inabalável com a excelência. A assistência elétrica da direção atua apenas em baixas velocidades, facilitando as manobras, e desativa-se totalmente em alta, garantindo um feedback puro e não filtrado ao volante. Com esta combinação de leveza, potência bruta e engenharia refinada, o 01 acelera de 0 a 100 km/h em menos de 3 segundos e ultrapassa os 350 km/h, dependendo da habilidade do piloto e da aderência dos pneus traseiros, oferecendo uma experiência de pilotagem emocionante e desafiadora.
Serão produzidas apenas 19 unidades do Capricorn 01 Zagato, um número que não é aleatório, mas uma referência direta a 19 de abril de 1919, a data de fundação da Zagato. Cada exemplar será montado artesanalmente nas instalações da Capricorn próximas a Nürburgring, um processo que garante a máxima qualidade e atenção aos detalhes. O modelo é homologado para mercados exigentes como Europa, Reino Unido, Suíça, Japão, México, Canadá e Oriente Médio, mas, curiosamente, não para o mercado dos EUA, o que aumenta ainda mais sua exclusividade. A Capricorn já acena com planos para futuras séries, vislumbrando a produção de 100 a 200 carros por ano, posicionando-se como um “atelier técnico” para novos projetos de hipercarros de outras marcas, à semelhança de nomes como HWA ou Manifattura Automobili Torino (MAT). Isso demonstra não apenas ambição, mas uma visão de longo prazo para a sustentabilidade automotiva de uma marca focada em excelência artesanal.
Para a Capricorn, o 01 Zagato é muito mais que um brinquedo de bilionário; é uma declaração de princípios, um grito de resistência contra as tendências do setor automotivo contemporâneo. “Não queríamos entrar na corrida por números de potência ou tempos de volta”, afirma Robertino Wild. “Os hipercarros atuais estão tão pesados e cheios de eletrônica que o motorista virou um passageiro.” O Capricorn 01 Zagato é para um tipo diferente de entusiasta, aquele que anseia por ouvir o clique metálico do engate de marcha, o ronco cru e inebriante de um V8 supercharged trabalhando furiosamente, e sentir o cheiro característico do motor quente, logo atrás da cabine. É um carro feito para quem ainda acredita, com toda a fibra de seu ser, que dirigir é um verbo – uma ação, uma arte, uma paixão – não um algoritmo. Em 2025, o Capricorn 01 Zagato se ergue como um monumento à pura experiência de condução, um lembrete vívido de que a verdadeira inovação às vezes reside em abraçar a tradição com uma paixão inabalável. Seu valor de colecionador já está garantido, não apenas pelo preço ou raridade, mas pela alma que o define.
