A Revolução Silenciosa: Por Que 57% dos Motoristas Dirigirão um Carro Elétrico Até 2035
O ano de 2025 nos encontra em um ponto de virada decisivo para a indústria automotiva global. As discussões sobre o futuro da mobilidade, antes restritas a círculos de engenharia e sustentabilidade, hoje ecoam em conversas cotidianas, salas de reunião de grandes corporações e fóruns governamentais. A previsão de que cerca de 57% dos motoristas incorporarão um carro elétrico em suas vidas nos próximos dez anos, conforme apontado por um estudo da Accenture, não é apenas um dado estatístico; é um prenúncio de uma transformação profunda e irreversível. Esta projeção, que estende seu horizonte até 2035, reflete uma confluência de avanços tecnológicos, conscientização ambiental e, crucially, benefícios econômicos tangíveis que estão redefinindo a maneira como pensamos o transporte pessoal.
A eletrificação da frota global não é mais uma aspiração futurista, mas uma realidade em rápida ascensão. Em 2023, o mercado global de veículos elétricos (EVs) já havia superado a marca de 14 milhões de unidades vendidas, um volume que serve de base para o crescimento exponencial observado em 2024 e projetado para os anos seguintes. O ritmo de adoção tem superado as expectativas mais otimistas, impulsionado por uma série de fatores que merecem uma análise aprofundada.
Os Pilares da Mudança: Por Trás do Crescimento Global dos EVs
Para compreender a magnitude dessa projeção, é fundamental analisar os múltiplos vetores que a impulsionam. A pesquisa da Accenture, baseada em consumidores de mercados-chave como Estados Unidos, Itália, Alemanha, França, China e Japão, revela que quase metade dos motoristas (47%) já está convencida de que o futuro pertence aos veículos elétricos. Este consenso não surge do vácuo; ele é forjado por:
Regulamentações Ambientais Rigorosas: Governos ao redor do mundo têm implementado políticas cada vez mais estritas para a redução de emissões de carbono. Metas de descarbonização e proibições futuras de vendas de veículos a combustão em grandes mercados como a União Europeia, Reino Unido e certas regiões da China e dos EUA, obrigam as montadoras a acelerar seus investimentos em tecnologia de bateria automotiva e na produção de EVs. A busca por emissões zero se tornou um imperativo estratégico, não apenas uma opção.
Avanços Tecnológicos e Performance: A evolução das baterias é um dos grandes catalisadores. Aumento da densidade energética, que se traduz em maior autonomia, e a redução dos custos de produção têm tornado os EVs mais competitivos. Além disso, a experiência de condução de um carro elétrico, com seu torque instantâneo, silêncio e suavidade, é frequentemente descrita como superior à dos veículos a combustão, atraindo consumidores que buscam performance e conforto.
Incentivos Governamentais e Econômicos: Muitos países oferecem subsídios para a compra de EVs, isenções ou reduções de impostos (como o IPVA carro elétrico no Brasil), e benefícios como estacionamento gratuito ou acesso a faixas exclusivas. A economia de combustível carro elétrico é outro fator crucial, especialmente em um cenário de preços de combustíveis fósseis voláteis e historicamente elevados. Os custos de manutenção carro elétrico também tendem a ser menores, dada a menor quantidade de peças móveis e fluidos.
Conscientização e Engajamento do Consumidor: Há uma crescente preocupação global com as mudanças climáticas e a poluição do ar. Consumidores estão cada vez mais propensos a escolher produtos e serviços alinhados com valores de mobilidade sustentável. A imagem de vanguarda e responsabilidade ambiental associada aos EVs agrega valor e apelo.
O Cenário Brasileiro: A Aceleração em Solo Nacional
No Brasil, o movimento de eletrificação, embora historicamente mais lento que em mercados desenvolvidos, ganhou uma tração notável nos últimos anos, especialmente em 2024. Dados da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) revelam que, entre janeiro e outubro de 2024, mais de 51 mil carros elétricos foram vendidos no país. Esse número é expressivo quando comparado aos 19 mil emplacamentos registrados em todo o ano de 2023. Em apenas um período de dez meses, o mercado quase triplicou, evidenciando uma curva de crescimento acentuada e uma receptividade crescente por parte dos consumidores brasileiros.
A expertise de quem acompanha essa jornada há uma década nos permite inferir que o Brasil, com sua matriz energética majoritariamente limpa (hidrelétrica, eólica e solar), tem um potencial singular para a transição energética automotiva. Um carro elétrico no Brasil não apenas reduz as emissões locais, mas também opera com uma pegada de carbono significativamente menor em todo o seu ciclo de vida, dada a origem renovável da eletricidade.
Quem Está Conduzindo a Mudança no Brasil?
O perfil do consumidor brasileiro de EVs é diversificado, mas o exemplo do médico Eduardo Campelo, que trocou um SUV a combustão por um hatch elétrico, ilustra perfeitamente as motivações dominantes. “O principal fator que me motivou a comprar um veículo elétrico foi a economia de combustível e de IPVA, uma vez que Pernambuco [estado onde reside] tem isenção total”, relata Campelo. Sua decisão, compartilhada por milhares, destaca:
Economia Operacional: A diferença no custo por quilômetro rodado entre eletricidade e combustíveis fósseis é gritante. Para quem utiliza o veículo diariamente, a economia combustível carro elétrico se torna um argumento irrefutável.
Incentivos Fiscais Locais: Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco oferecem isenções ou descontos no IPVA, tornando a aquisição de um EV financeiramente mais atraente. São Paulo, aliás, lidera o ranking nacional com a maior participação, registrando milhares de novos veículos elétricos desde 2022. Estes incentivos fiscais para carros elétricos são cruciais para a democratização da tecnologia.
Consciência Ambiental: Embora o fator econômico seja poderoso, a busca por uma mobilidade sustentável e a redução da pegada de carbono também desempenham um papel significativo.
Desafios e Soluções para a Adoção em Massa
Apesar do otimismo, a transição não está isenta de desafios. Superá-los será fundamental para que o Brasil alcance ou até supere a projeção global de 57% de EVs até 2035.
Custo Inicial Elevado: O preço de aquisição de um carro elétrico ainda é um dos maiores entraves para a maioria dos brasileiros. Embora os custos de bateria estejam caindo e a gama de modelos se expandindo, tornando-os mais acessíveis, o diferencial ainda existe.
Soluções: O desenvolvimento de linhas de financiamento carro elétrico mais atrativas, a expansão de mercados de EVs seminovos, e a criação de incentivos fiscais federais que complementem os estaduais são essenciais. A produção local de componentes e veículos também contribuirá para a redução de custos.
Infraestrutura de Carregamento de Veículos Elétricos: A “ansiedade de autonomia” é uma preocupação legítima. A disponibilidade e a capilaridade dos pontos de recarga são cruciais para a conveniência e a confiança do consumidor.
Soluções: O investimento em infraestrutura de carregamento de veículos elétricos é vital. Isso inclui a instalação de carregador veicular elétrico em residências, condomínios e empresas (carregamento lento e semirrápido), além da expansão de redes de carregamento público rápido em rodovias e centros urbanos. Parcerias entre o setor público e privado, e a padronização de conectores, são fundamentais para um crescimento orgânico e eficiente.
Matriz Energética e Geração: Embora o Brasil tenha uma matriz predominantemente limpa, o aumento expressivo da demanda por eletricidade para carregar milhões de veículos exigirá planejamento e investimentos na expansão e modernização da rede elétrica.
Soluções: O desenvolvimento de redes inteligentes (smart grids) que otimizem a distribuição de energia, o incentivo à microgeração distribuída (solar e eólica em residências e empresas), e a exploração de tecnologias de Vehicle-to-Grid (V2G), onde os carros podem devolver energia à rede em picos de demanda, serão cruciais para a sustentabilidade do sistema.
Cadeia de Suprimentos e Reciclagem de Baterias: A crescente demanda por baterias levanta questões sobre a extração de minerais (lítio, cobalto) e a gestão do fim da vida útil das baterias.
Soluções: O investimento em pesquisa e desenvolvimento para novas químicas de bateria que utilizem materiais mais abundantes e sustentáveis, bem como o estabelecimento de processos robustos de reciclagem e reaproveitamento de baterias, são imperativos para garantir que a mobilidade sustentável seja verdadeiramente circular.
O Papel das Montadoras e a Dinâmica do Mercado em 2025
As montadoras, como corretamente apontado pela Accenture, precisam focar nas necessidades dos consumidores de EVs. Em 2025, vemos um cenário onde a oferta de modelos elétricos se tornou muito mais rica e diversificada. Marcas tradicionais como Fiat, Chevrolet, Volkswagen, e montadoras especializadas em EVs como BYD, GWM e Tesla, estão competindo acirradamente, oferecendo desde compactos urbanos até SUVs de luxo e picapes elétricas.
A BYD, por exemplo, tem feito investimentos significativos no Brasil, incluindo a aquisição da antiga fábrica da Ford na Bahia, sinalizando uma aposta robusta no mercado local. Essa chegada de novos players e o investimento na produção local tendem a baratear os veículos e a acelerar a adaptação da tecnologia de bateria automotiva às realidades brasileiras.
A eficiência energética automotiva não se restringe apenas ao motor elétrico; ela abrange todo o design do veículo, desde a aerodinâmica até a leveza dos materiais e a inteligência dos sistemas de gerenciamento de energia. As tendências automotivas 2025 mostram um foco cada vez maior na integração digital, conectividade e sistemas avançados de assistência ao motorista (ADAS), que complementam a experiência elétrica.
Olhando para 2035: Um Futuro Eletrificado e Inteligente
A meta de 57% dos motoristas com um carro elétrico até 2035 não é apenas alcançável, mas provável, se os investimentos em infraestrutura e os incentivos governamentais continuarem a se expandir. O Brasil está em um caminho promissor para se tornar um protagonista na revolução da mobilidade sustentável na América Latina.
A adoção em massa dos EVs terá ramificações que vão muito além do setor automotivo. Cidades mais silenciosas e com ar mais limpo, uma maior independência energética e o fomento de novas indústrias e tecnologias são apenas alguns dos benefícios. A transição para o elétrico é, em essência, uma transição para um futuro mais eficiente, mais limpo e mais conectado. O mercado de veículos elétricos no Brasil está decolando, e estamos apenas no começo de uma jornada que redefinirá nosso modo de viver e nos locomover.

