Maserati Levante em 2025: A Alma Italiana que Redefiniu o SUV de Luxo
Quando a Maserati anunciou sua incursão no segmento de utilitários esportivos, a notícia ecoou com uma mistura de ceticismo e curiosidade. Era 2016, e a ideia de uma marca com um legado tão profundamente enraizado em superesportivos e sedãs de luxo, como o GranTurismo e o Quattroporte, lançar um SUV parecia, para muitos puristas, uma heresia. Hoje, em 2025, a história é outra. O Maserati Levante não apenas se consolidou no mercado, mas redefiniu as expectativas para o que um SUV de luxo de alto desempenho pode ser, provando ser um pilar financeiro essencial para a inovação contínua da marca em modelos mais exóticos.
A lógica por trás do Levante sempre foi inegável, especialmente para aqueles que entendem a intrincada dança entre paixão automotiva e viabilidade econômica. Em Modena, berço da Maserati, a equação é simples: o capital gerado por veículos de volume mais alto e apelo global, como os SUVs, é o motor que impulsiona o desenvolvimento e a produção dos supercarros dos sonhos, os verdadeiros embaixadores da engenharia e design italianos. O Levante, portanto, não é apenas um SUV; é um guardião do legado da Maserati, uma ponte entre a tradição e o futuro, garantindo que os “tridentes” continuem a riscar as pistas e ruas mais exclusivas do mundo.
Minha experiência, ao longo de uma década avaliando os mais diversos veículos premium, me ensinou a abordar SUVs de marcas tradicionalmente esportivas com uma lente crítica, mas aberta. O desafio nunca foi simplesmente criar “mais um jipão”, mas sim desenvolver uma extensão autêntica e inquestionavelmente alinhada à identidade da marca. E a Maserati, assim como outras grifes do luxo automotivo que seguiram o mesmo caminho, como a Lamborghini com o Urus ou a Aston Martin com o DBX, soube como tecer a essência de sua linhagem em uma carroceria elevada, silenciando os críticos e conquistando um novo público.

A primeira vez ao volante do Levante foi um rito de passagem, uma jornada por estradas sinuosas na serra de Monterey, na Califórnia – um autêntico Nürburgring americano. A cada curva fechada, a cada subida íngreme com raio negativo, a resposta era imediata. Reduzindo marchas, o motor V6 biturbo, com sua inconfundível melodia de origem Ferrari, preenchia a cabine, um rugido que fazia a alma vibrar, enquanto o SUV, com notáveis 20 centímetros de distância do solo, contornava os desafios como um sedã esportivo de seu porte. Não havia hesitação diante das mudanças de elevação ou dos diferentes perfis de curva, apenas a certeza de que ali estava um Maserati, adaptado, sim, mas nunca comprometido. Essa experiência de condução exclusiva é o que realmente diferencia o Levante no concorrido universo dos SUVs de alto desempenho.
Estar cercado por couro de toque suave, digno das bolsas e luvas mais caras da alta-costura italiana, enquanto se desafia as leis da física em uma estrada de montanha, é uma dicotomia que poucos veículos podem oferecer. É a fusão perfeita entre luxo e performance, uma declaração de que a Maserati não faz concessões. Na segunda curva mais exigente, a redução para a primeira marcha e os estouros do escapamento dissiparam qualquer dúvida remanescente: o Levante é, em sua essência, um Maserati, apenas um pouco maior e, surpreendentemente, ainda mais prazeroso de se conduzir em certos contextos, ampliando a definição de design italiano automotivo para o segmento de SUVs.
O Levante chegou a um mercado em plena efervescência, onde a percepção do SUV estava em constante evolução. Lembrar do conceito Kubang, a primeira tentativa da Maserati de um SUV compacto, exibido há mais de uma década, é entender a trajetória. Naquele momento, a ênfase poderia ter sido em um SUV mais rústico e agressivo para autenticidade. Contudo, o mercado mudou. A diferenciação reside agora em como as marcas infundem a “alma” de seus modelos esportivos e de luxo em uma plataforma elevada. Vimos essa transformação em modelos como o Mercedes-Benz Classe M, que evoluiu para o mais refinado GLE, redefinindo o vocabulário do segmento. O Levante não é exceção; ele é a personificação dessa sofisticação em 2025.
A Maserati, fiel à sua tradição, batizou o Levante com o nome de um vento mediterrâneo, associado a sistemas de alta pressão – uma metáfora perfeita para a energia e a força que o veículo representa. Essa continuidade da tradição em um produto tão inovador é um testemunho da visão da marca. Embora alguns compradores possam ponderar sobre a colaboração com a Daimler Chrysler em tempos passados, ou a influência do grupo FCA (atual Stellantis), a presença imponente do tridente na grade dianteira é um lembrete inequívoco de sua herança italiana, transformando o Levante em um objeto de desejo global. Para muitos, a posse de um veículo assim não é apenas uma compra, mas um investimento em veículos premium que carrega consigo uma história e um prestígio.
Compará-lo com o Porsche Cayenne em termos de inspiração de design e função é inevitável. No entanto, o Levante consegue manter uma identidade totalmente Maserati, parecendo mais um Ghibli Wagon elevado do que um Toyota Land Cruiser. E a semelhança com o Cayenne não se limita ao visual; ela se estende à sensação ao abrir a porta e se acomodar, oferecendo uma posição de condução mais próxima de um sedã. Sua linha de cintura alta confere uma presença inquestionável, deixando observadores na dúvida se ele é do tamanho de um Macan ou de um Cayenne – na realidade, ele se alinha ao último. Apesar de seu porte externo, a capacidade do porta-malas, ligeiramente abaixo de concorrentes como o BMW X5 e o próprio Cayenne, raramente é um fator decisivo para seus proprietários, que buscam outros atributos em um SUV dessa categoria.
Um exame mais detalhado do design externo revela cortes e superfícies que são verdadeiras obras de arte, enquanto o interior é um santuário de acabamento requintado. A costura impecável e os materiais suntuosos criam um ambiente luxuoso sem ser ostentador, embora a opção do pacote Zegna para bancos e portas eleve ainda mais o patamar da exclusividade e da personalização de veículos de luxo. É verdade que algumas peças podem lembrar componentes de veículos do grupo (como o antigo Chrysler 300 ou a Ram 1500), mas é importante recordar que muitos desses elementos têm raízes em parcerias de engenharia de alto nível, como as da Mercedes-Benz, garantindo qualidade e durabilidade.
A tecnologia automotiva avançada do Levante é outro ponto forte. O sistema multimídia, em suas versões mais recentes, é um dos melhores do mercado, com integração perfeita de Apple CarPlay e Android Auto, além de uma interface touch intuitiva para a maioria das funções. Contudo, o painel de controle para o motorista, especialmente no que tange aos modos de condução, ainda poderia ser mais lógico e direto. Às vezes, a navegação pelos menus e configurações de performance lembra mais a complexidade de uma lista de contatos de emergência do que um sistema otimizado para a condução esportiva. Em meus testes, por exemplo, o modo Off-Road, que eleva a suspensão para quase 25 cm, útil para trilhas suaves a caminho de um evento de luxo no campo, exigiu um certo aprendizado.
No trecho testado em Monterey, com a versão Levante S específica para o mercado americano, a diferença notável era principalmente a instrumentação em milhas. A alma do veículo, a melodia do escapamento, permanecia intocada. O Levante, disponível em sua versão básica e na S – mais potente e equipada – oferece, sob o capô, um V6 3.0 biturbo, entregando 345 cv na versão padrão e impressionantes 424 cv na S. A Maserati projeta acelerações de 0 a 96 km/h em cerca de seis segundos para o Levante e em 5,2 segundos para o S, solidificando sua posição como um dos mais competentes SUVs esportivos do mercado. Ao contrário de outros modelos da marca, o Levante é oferecido exclusivamente com tração integral, garantindo performance e segurança em diversas condições.

Ao pisar fundo no acelerador e deixar as rotações subirem, o som do escapamento responde com uma fúria orquestrada, berrando e estourando a cada troca de marcha. Seja no modo automático ou no Sport, a transmissão de oito marchas opera com uma precisão e um entusiasmo que cativam. Nas descidas onduladas e rápidas de minha estrada favorita, o Levante revela seu tamanho, e em certas situações, ele se sente mais pesado do que o esperado. Ativar os modos esportivos mais agressivos e a suspensão pneumática (item de série em todos os Levante) endurece a carroceria, mas não elimina completamente essa percepção de peso em transições extremas. Independentemente do ajuste da suspensão, o rodar firme copia qualquer ondulação ou imperfeição do asfalto, uma característica que, embora proporcione excelente feedback, difere do isolamento absoluto encontrado, por exemplo, em um Rolls-Royce Ghost.
Ao sair das pistas de teste e conduzir o Levante em velocidades mais elevadas e em uso diário, ele se mostra sólido e confiável. A direção, rápida e com respostas verdadeiras, não virtuais, torna a pilotagem um prazer contínuo. A magia reside em um sistema hidráulico, uma escolha distinta em um mercado dominado por sistemas elétricos, que confere uma conexão mais orgânica entre o motorista e a estrada. No modo I.C.E (Increased Control & Efficiency), o Levante se acalma, oferecendo respostas mais suaves e eficientes, ideal para o tráfego urbano ou viagens mais longas, onde a eficiência e o conforto são prioridades. Para aqueles que consideram o seguro de carros importados ou o valor de revenda SUV premium, a versatilidade do Levante em diferentes cenários é um ponto a ser valorizado.
Após um tempo considerável ao volante, é fácil se apaixonar pela maneira como o Levante sutilmente o convence de que você está dirigindo um supercarro disfarçado. Ele é, no fundo, uma perua alta meticulosamente calibrada pela Maserati. Os entusiastas da marca devem aplaudir a engenharia e o design que tornaram isso possível, preservando a essência do tridente em um formato completamente novo. O Levante não é apenas um veículo; é um testamento da capacidade da Maserati de inovar sem perder sua identidade, oferecendo uma alternativa distinta no crescente segmento de carros de luxo.
Se o Levante possui algum “defeito”, ele é, de certa forma, existencial. Enquanto a Maserati desenvolvia o Levante, um processo que se estendeu por anos desde o conceito Kubang, a competição não ficou parada; ela cresceu e se fortaleceu exponencialmente. O Jaguar F-Pace, por exemplo, oferece uma proposta similar em desempenho e comportamento dinâmico por um preço significativamente menor. É inegável que os compradores da Jaguar e da Maserati operam em esferas ligeiramente diferentes, mas a comparação de desempenho, especialmente com o F-Pace R-Sport de 380 cv, é inevitável. No entanto, a linha de produtos da Maserati, de maneira geral, existe em uma bolha de exclusividade e paixão, um efeito positivo para seus compradores mais fervorosos.
Em 2025, o Maserati Levante não é mais uma incógnita, mas uma realidade estabelecida e respeitada. Se você está pensando em adquirir um SUV esportivo, o Levante deve estar, sem dúvida, na sua lista de considerações, especialmente se a elegância italiana, a performance envolvente e a exclusividade de um tridente na grade são elementos irrenunciáveis. A lógica inicial de sua criação pode ter sido puramente financeira, mas a razão para desejá-lo transcende o pragmatismo, transformando-se em uma apreciação pela arte e engenharia automotiva. Com ele, o dinheiro não só vem para os superesportivos, mas também para uma experiência de condução que é superlativa em si mesma.

