A Ascensão Digital no Painel: Latin NCAP Redefine a Segurança Automotiva no Brasil
A paisagem automotiva global está em constante metamorfose, e em 2025, uma das transformações mais notáveis é a digitalização massiva dos interiores dos veículos. Impulsionadas pela busca por design minimalista, interfaces intuitivas e a influência inegável dos smartphones, as montadoras, em especial as de origem asiática, têm substituído botões físicos e comandos táteis por vastas centrais multimídia que centralizam praticamente todas as funções do carro. Controles de ar-condicionado, ajustes de retrovisores e até mesmo a exibição do velocímetro migraram para as telas sensíveis ao toque, prometendo uma experiência mais “conectada”. No entanto, essa inovação, vista por muitos como um avanço inquestionável, levanta sérias preocupações de segurança. O Latin NCAP, o renomado órgão independente responsável pela avaliação da segurança veicular na América Latina e Caribe, ergueu uma bandeira vermelha, declarando que essa prática pode comprometer significativamente a segurança do motorista, tornando-se um risco em potencial para milhões de condutores no Brasil e em toda a região.
O problema central reside na distração ao volante. Ao invés de um controle tátil e intuitivo que pode ser operado sem desviar o olhar da estrada, os motoristas agora precisam navegar por menus complexos, tocar em ícones precisos e, muitas vezes, fazer gestos na tela para acessar funções básicas. Este processo, que exige uma atenção visual e cognitiva considerável, desvia o foco do ambiente externo, mesmo que por segundos, o que é tempo suficiente para que um acidente ocorra. Alejandro Furas, diretor geral do Latin NCAP, é enfático: “Nossa visão é que estes sistemas não são bons. Todos os comandos touch, que não têm contato físico, geram uma distração. Vamos penalizar veículos que tenham essas características no próximo protocolo.” Esta declaração marca um ponto de virada crucial, sinalizando que a indústria automotiva precisará recalibrar sua rota em direção à digitalização excessiva.
O Latin NCAP, que historicamente avalia quatro pilares fundamentais da segurança veicular – proteção de adultos, proteção de crianças, proteção de pedestres e assistências ativas – está se preparando para introduzir uma quinta e revolucionária área de estudo: a da “percepção”. Esta nova métrica terá como objetivo quantificar e qualificar os níveis de distração que diferentes interfaces de usuário geram, fornecendo um panorama mais completo da operação do carro. “Criando a área da percepção, teremos um panorama mais amplo da operação do carro”, explicou Furas, “Faremos o cálculo das variáveis que podem colocar o motorista em risco.” Essa abordagem proativa reflete uma compreensão aprofundada de que a segurança veicular não se limita apenas à resistência estrutural em caso de colisão, mas também à prevenção de acidentes através da mitigação de riscos de distração. Para as montadoras, isso significa que a inovação tecnológica terá de ser aliada à ergonomia e à segurança cognitiva do condutor.
Exemplos de design problemático não faltam. O Volvo EX30, um SUV elétrico aguardado, reposicionou seu velocímetro da tradicional posição atrás do volante para o topo da central multimídia. Embora a intenção possa ser a de criar um interior mais “limpo”, essa mudança exige que o motorista desvie o olhar consideravelmente da estrada para verificar sua velocidade. Outro caso notório envolveu alguns modelos da BYD, onde os controles do ar-condicionado não possuíam uma barra fixa na tela. Para acessá-los, o condutor precisava fazer um gesto de “arrastar para cima”, um movimento que simula o uso de um smartphone, porém com as inerentes implicações de segurança em um ambiente de condução. Embora a marca chinesa tenha ajustado isso em modelos mais recentes, o incidente serve como um lembrete do dilema entre inovação e praticidade. Ações como o ajuste de retrovisores ou a navegação por menus complexos, que antes eram simples toques em botões físicos, agora se transformaram em mini-tarefas que consomem tempo e atenção preciosos do motorista. Tais mudanças não apenas elevam a distração, mas também podem diminuir a eficácia de sistemas ADAS (Advanced Driver-Assistance Systems), se o motorista estiver focado na tela e não na via.
Além da questão dos controles táteis, o novo escopo de avaliação do Latin NCAP, cujo protocolo mais recente é válido a partir de 1º de janeiro de 2026, também abrange a configurabilidade dos sistemas ADAS através da central multimídia. Uma preocupação crescente é a permissão de que motoristas desliguem assistências importantes, como o alerta de saída de faixa, o detector de placas de trânsito e o alerta de velocidade. Embora a liberdade de escolha seja valorizada, a facilidade de desativar recursos projetados para salvar vidas é um paradoxo de segurança. Furas é categórico nesse ponto: “Na nossa visão, se o motorista desligar um recurso do ADAS, este deverá estar ativo na próxima vez que ligar o carro. O ideal é que o sistema nunca esteja totalmente desligado.” Essa medida visa garantir que os recursos de segurança estejam sempre operantes, reforçando a proteção do condutor e dos passageiros, e é uma tendência global que as avaliações de segurança, como o Euro NCAP, também estão aprimorando. Isso impactará diretamente os “carros seguros 2025” e além, exigindo das montadoras uma revisão na arquitetura de seus sistemas.
A partir de 2026, a obtenção da qualificação máxima de cinco estrelas no Latin NCAP será significativamente mais desafiadora. O órgão atualizou a tabela de avaliação para proteção de adultos, crianças, pedestres e assistências de segurança, com critérios muito mais rigorosos, alinhados com as melhores práticas internacionais.
Novidades nas Avaliações de Segurança Latin NCAP (Protocolo 2026):
Impacto Frontal: Embora sem grandes mudanças para adultos, o teste agora incorpora dummies de crianças mais avançados, utilizando assentos de elevação para uma simulação mais realista, garantindo maior “segurança automotiva Brasil” para os passageiros mais jovens.
Impacto Lateral: A velocidade e o peso da colisão foram aumentados para 60 km/h e 1.400 kg, respectivamente, refletindo acidentes laterais mais severos e exigindo estruturas veiculares mais robustas.
Impacto em Poste: A velocidade do teste foi elevada, e um novo ângulo de impacto de 75° foi introduzido, avaliando a integridade estrutural em cenários mais complexos.
Whiplash (Efeito Chicote): Pela primeira vez, a segurança dos passageiros adultos no banco traseiro será avaliada, juntamente com a integridade estrutural do veículo pós-impacto traseiro, crucial para a proteção cervical.
Folha de Resgate: Este teste foca na segurança pós-colisão, avaliando sistemas como a liberação do cinto de segurança, abertura de portas, sistema de chamada de emergência e a segurança específica de carros elétricos e híbridos após acidentes, dado o risco de baterias. Isso mostra o avanço na “avaliação de segurança veicular” abrangente.
Teste de Evasão (Teste do Alce): Essencial para a estabilidade e controle em manobras bruscas, agora é realizado a 60, 65 e 70 km/h, oferecendo uma análise mais detalhada do comportamento dinâmico do veículo.
Sensor de Permanência em Faixa: Carros que oferecem manutenção automática da faixa de rodagem (Lane Keeping Assist) receberão uma pontuação mais elevada, incentivando a adoção de “sistemas ADAS” mais proativos.
Sensor de Frenagem de Emergência (AEB): O teste será expandido para incluir cenários noturnos, e a avaliação combinará a média dos resultados em ambientes urbanos e rodoviários, refletindo a eficácia do sistema em diversas condições. Este é um dos “melhores carros com segurança” para se ter.
Controlador de Velocidade: Carros equipados com alerta de velocidade, que informa o motorista sobre os limites da via, receberão uma pontuação maior, promovendo uma condução mais consciente.
Detector de Ponto Cego (BSD): Os critérios de distância entre os veículos para ativação do alerta serão alinhados com os rigorosos padrões do Euro NCAP, melhorando a precisão e a utilidade do sistema.
Conector para Sensor de Álcool: Uma inovação significativa é a valorização de carros com predisposição para receber medidores de álcool, que detectam motoristas embriagados. Embora ainda não seja obrigatório, a inclusão deste item visa incentivar a “tecnologia automotiva” preventiva contra a direção sob efeito de álcool, um dos maiores flagelos nas estradas.
Além de todas essas mudanças, a partir de 2028, para que um carro de passeio possa almejar as cobiçadas cinco estrelas, ele deverá, impreterivelmente, ter os seguintes equipamentos como itens de série: Controle Eletrônico de Estabilidade (ESC), Aviso de Cinto de Segurança (SBR) para todos os ocupantes, Sensor de Ponto Cego (BSD) e Assistente Automático de Velocidade (ACC). Esta exigência elevará o padrão de segurança base para todos os veículos que desejarem alcançar a excelência, forçando as montadoras a fazerem um “investimento em segurança veicular” desde as versões de entrada. Essas “tendências segurança automotiva” mostram um caminho claro para o futuro do setor.
O Latin NCAP, apesar de sua grande influência e credibilidade, opera como um órgão independente, sem caráter regulatório direto. Seus diretores, engenheiros sem vínculos com a indústria automotiva, garantem imparcialidade em suas avaliações. No entanto, o objetivo final do Latin NCAP é transcender sua condição de órgão consultivo e tornar-se um braço regulatório, trabalhando em conjunto com os governos da região para que suas normas de segurança sejam mandatórias. Alejandro Furas ilustra essa ambição comparando-a à rotulagem na indústria de alimentos, onde as empresas são obrigadas a descrever o teor de sódio, gordura ou açúcar de seus produtos. Da mesma forma, o Latin NCAP busca uma rotulagem de segurança automotiva que seja clara, obrigatória e fácil de entender para o consumidor, permitindo uma escolha informada sobre o “custo benefício carro seguro”.
Atualmente financiado por fundos e ONGs internacionais, o Latin NCAP está ativamente buscando parcerias com governos para concretizar esse ambicioso projeto. Negociações já estão em andamento com as principais autoridades de trânsito latino-americanas em países como Brasil, Argentina e Uruguai, o que demonstra um movimento significativo em direção a uma maior padronização e rigor na segurança veicular em toda a região. A evolução das “novas regras Latin NCAP” e a busca por um papel regulatório representam um passo gigante para a proteção dos consumidores e a promoção de uma cultura de segurança inabalável no trânsito. O futuro dos carros no Brasil e na América Latina dependerá cada vez mais não apenas da inovação tecnológica, mas, sobretudo, da capacidade de integrar essas tecnologias de forma segura e responsável, garantindo que o avanço digital não se torne um atalho para a distração e o perigo nas estradas.
